Daniel Campos

Imprimir Enviar para amigo
05/03/2013 - Olhos de bromélias

Ela tem olhos de bromélias. Olhos que acumulam lágrimas e nas estiagens da felicidade alimentam-se da própria tristeza. Olhos de bromélias, selvagens, mas com facilidade de serem domesticados. Olhos amarelos, rosas, vinhos, roxos, vermelhos. Olhos de bromélias, apaixonantes e perigosos como pétalas de espinhos. Olhos longos e estreitos, mas extremamente macios, como as folhas dessa planta que dá de ombros para a seca. Olhos de bromélias abertos como um coração comestível. Olhos tropicais e exóticos. Olhos hospedeiros por natureza, criadouros de ilusão. Olhos que abusam de sua inflorescência.

Olhos de bromélias, que atraem e matam insetos em suas águas paradas. Olhos de uma geometria moderna, ousada. Olhos que se agarram aos outros como se agarrassem às árvores. Olhos que se reproduzem e se multiplicam com facilidade. Olhos que abrigam o contraste de cores, formas e intensidades. Olhos dependurados, equilibristas de olhares. Olhos que resistem ao sol mais inóspito. Olhos que não se rendem, continuam vivos mesmo depois de queimados, de dilacerados, de pisoteados. Olhos que fingem imobilidade para atacar no momento certo. Olhos de bromélias, que habitam os céus, os topos, os inalcançáveis...


Comentários

Nenhum comentário.


Escreva um comentário

Participe de um diálogo comigo e com outros leitores. Não faça comentários que não tenham relação com este texto ou que contenha conteúdo calunioso, difamatório, injurioso, racista, de incitação à violência ou a qualquer ilegalidade. Eu me resguardo no direito de remover comentários que não respeitem isto.
Agradeço sua participação e colaboração.

voltar