Daniel Campos

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23/06/2008 - O país da inércia

Considero Caetano Veloso uma das figuras mais inteligentes do nosso tempo, seja como músico, letrista ou provocador. Provocador? O que dizer de alguém que, cronologicamente, cria um movimento chamado Tropicália, revolucionando a forma e o conteúdo da MPB; que canta o funk "Um Tapinha não Dói" em seu show para fazer crítica social ao falso moralismo vigente na sociedade e assina um movimento contra as cotas raciais só para incentivar o debate. Caetano não gosta de nada pronto, de nenhuma decisão arrumadinha, de andar de acordo com a maré. Ao contrário, é daqueles que sai sem lenço e sem documento caminhando contra o vento.

Recentemente, declarou que existe no Brasil uma inércia que puxa para trás os que tentam fazer algo positivo. Para esse baiano, todas as pessoas que querem avançar, mudar a realidade, fazer algo melhor, sofrem com essa inércia que é fruto de uma cultura de desimportância, uma espécie de salvo-conduto para cada um se mostrar irresponsável na sua área. Para Caetano, no inconsciente do brasileiro, está o medo de assumir responsabilidades.

O brasileiro sempre foi tratado com descaso pelas autoridades, seu papel sempre foi o de mero espectador dos acontecimentos e das decisões. Por isso, nunca assumiu seu papel de ator social e, de certa forma, se acomodou. Enquanto os argentinos organizam panelaços contra a alta dos preços dos alimentos, os brasileiros se calam. Se alguém quer fazer algo diferente, logo é rendido pela força da inércia.

A ministra Marina Silva tentou enfrentar os donos do poder e sangrou como uma seringueira até tombar ao chão. O senador Eduardo Suplicy, com o seu sonho de implantar um programa de renda mínima em nosso país, é uma voz solitária no Congresso. Educadoras da comunidade, que retiram crianças das ruas e levam-nas para seus quintais, não recebem apoio algum das autoridades. Em linhas gerais, o enunciado da física sobre inércia diz que todos os corpos são "preguiçosos" e não desejam modificar seu estado atual: ou seja, se parados, não desejam mover-se. Por tudo isso, podemos chamar o Brasil de país da inércia.


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