Daniel Campos

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21/04/2008 - O padre voou

Desde criança, temos a impressão de que padre é uma criatura mágica. Padre usa vestido, mora na igreja, fala todo dia com Deus. Isso, e mais um pouco, é o que passa na cabeça dos pequeninos. Quando crescemos, essa magia ganha outra conotação, mas não deixa de existir. Eu, por exemplo, sempre me assustei com o silêncio que rodeia a vida paroquial.

Ao contrário de ficar ouvindo rádio, assistindo televisão, conversando com os outros durante a maior parte do dia e ficar recluso, durante alguns míseros minutos, em oração, os padres ficam em silêncio durante a maior parte do tempo. Se você já entrou em alguma igreja para fazer uma hora santa, sabe o que tento dizer com essas linhas. O silêncio sacro é algo que grita em nossa alma. Traz alívio e inquietude ao mesmo tempo. É difícil imaginar-se padre, cercado pelo mistério do silêncio.

No fundo, a fé é um pouco esse silêncio. Você tem que acreditar no que não vê, no que não ouve. As imagens que estão na igreja não abrem a boca para dizer. O falar delas é de outra forma. Eis que entra em cena o sentimento. E da mesma maneira como queríamos que Cristo descesse da cruz e nos abraçasse, o padre deve desejar algo parecido. No mínimo, desejava que um coral de anjos saísse dos vitrais e cantasse a pleno pulmões.

Mas os milagres não andam no ritmo de nossa imaginação. No entanto, se eles não vêm até nós, vamos atrás deles. Seguindo esse raciocínio, um padre quis voar ao encontro de Deus. Mas não era um vôo espiritual, por meio do silêncio da oração, mas um vôo físico. Como uma criança, o padre se prendeu a mil balões coloridos e partiu para os céus. Feito um anjo ou em busca de um anjo, o padre voou. Voou para não mais voltar.


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