Daniel Campos

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15/11/2008 - O mundo na barriga

Já havia passado do prazo dado pelas suas contas, pelos médicos e pela natureza. O menino estava a cada dia mais forte, cansando-lhe o corpo. A maratona de hospital-casa, casa-hospital já havia virado rotina. As dores do parto, as contrações, a eliminação de líquido eram mais que suficientes para ela acreditar no nascimento e rumar para a maternidade. No entanto, os médicos diziam que a dilatação não era aquela, que as contrações eram psicológicas, que o bebê estava bem. Coisas de primeira gravidez. Ah! Ela era mãe pela primeira vez e a culpa de tudo parecia estar nesse fato.

Ela já desanimara. Tinha o rosto cansado de tantas idas e vindas, de tantas expectativas criadas e quebradas, de tanto sim e não. E estava farta das piadinhas de que seu filho não queria nascer porque não gostava dela. Chorava só de ouvi-las. E o vestido que havia guardado para o tão sonhado momento do parto? Já estava mais gasto do que qualquer outro. Será que bem no dia em que o menino decidisse nascer ele estaria de molho ou secando no varal? Não... ela havia sonhado tanto com aquele vestido. Preocupada, mudava de hospital, fazia ultra-som, ligava de minuto a minuto para a mãe querendo saber isso e aquilo.

Protagonista de uma novela, depois de tantas fantasias, vivia a aflição de uma gravidez precoce. E, também prematuramente, tentava entender porque o menino não nascia. Será medo, desilusão, preguiça??? Mas a mãe não havia pensado que o cerne do problema era sua cabeça. Na verdade, ela não queria que o menino nascesse. Ela queria o filho só para ela e, por algum fator que a ciência não explica, seu corpo tardava ao máximo o grande momento. Se dependesse de suas vontades, seu filho moraria para sempre dentro de sua barriga. No fundo de seus pensamentos, ela não admitia a hipótese de viver sem estar grávida.


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