Daniel Campos

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09/05/2008 - O desejo por detrás do paladar

Há gostos que não saem da boca. Eles adormecem, quase se esquecem, mas continuam lá pulsando desejos e vontades. Pois bem, estava eu em casa dia desses, quando o telefone tocou. Era dona Ofélia, minha avó. Do outro lado da linha, caminhava no cotidiano, quando, de repente, um meteoro caiu na minha cabeça. Poeticamente falando, é claro. E tudo isso porque ela me contou que acabara de tomar leite gelado com groselha. Pronto! Foi o bastante para me dar urticárias.

Naquela noite havia groselha, mas faltava leite em casa. Isto é, tinha leite de soja e leite em pó, mas não serviam para aquela receita. Era preciso leite de vaca. O jeito era esperar. E que grande bobagem tudo isso, afinal não sou mais criança. O que era ficar mais algumas horas sem a tal bebida? Devo confessar que praticamente não dormi pensando na tal mistura. Minha boca salivava daquele gosto passado. No outro dia, como se diz lá no interior, matei minha lombriga. Tomei logo dois copos de tirar o fôlego.

O mais curioso é que o gosto era exatamente o mesmo que repousava em meu inconsciente. Ou seja, era como se eu tivesse tomado leite gelado com groselha ontem mesmo tamanho o vínculo existente entre eu e a bebida. Um vínculo que foi quebrado com o passar dos anos, por alguma razão que desconheço, mas que foi rapidamente restabelecido. Por culpa de dona Ofélia, não falta mais leite e groselha na geladeira de casa.

O problema é que ela me falou que anda bebendo isso acompanhado de um pedaço de goiabada. Ah! Mas como é difícil encontrar uma boa goiabada cascão na cidade grande. Como canta Beth Carvalho, ?goiabada cascão, em caixa, é coisa fina senhor, que ninguém mais acha?. Lembro daquelas goiabadas que meu bisavô José Barbosa batia no tacho. É... a vida vai deixando sabores e dissabores em nossa boca. E não é preciso ter paladar exigente para saber apreciá-los.


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