Daniel Campos

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15/03/2008 - O Cristo Redentor que se cuide

Roubar galinha, carteira, carro e eletrodomésticos é démodé. Também já está desvalorizado o contrabando de animais e plantas silvestres, o confisco da poupança da classe média e o assalto a esperança de milhares de eleitores. Também se engana quem pense que o roubo de segredos industriais, de órgãos humanos e de telas famosas de museus clássicos está na moda. O frisson agora, entre os ladrões, é roubar múmias. Múmias? Isso mesmo, nesta semana a polícia egípcia apreendeu quatro múmias roubadas que seriam vendidas no mercado negro por um grupo de contrabandistas.

O valor das múmias nesse mercado ultrapassa facilmente os cinco milhões de reais. Além dos corpos embalsamados, a polícia encontrou outras relíquias. No caso, um ataúde com inscrições hieroglíficas e dez estátuas, tudo da época faraônica, que seriam vendidos a 150 quilômetros do Cairo. Pobres egípicios. De que valeu tanto esforço para descobrir o processo de mumificação. Os ritos especiais de uma cultura milenar foram por água abaixo.

Nem as múmias podem descansar em paz! Mas ao contrário do Brasil, onde os túmulos são violados diariamente e nada acontece, reza a lenda egípcia que caso ladrões ou outros pecadores perturbarem o descanso das múmias, elas se levantariam e destruiriam os inimigos. Mas essa cena parece que ficou restrita ao cinema. Mais do que coragem, o roubo exigiu esforço. É preciso muito suor para carregar essas peças. Vale dizer que três das múmias têm um comprimento entre 170 e 180 centímetros. A quarta, com 70 centímetros, era de uma criança.

Precisamos ficar apreensivos. Está na moda roubar as maravilhas do mundo. Hoje foram as múmias, amanhã podem ser as pirâmides. Do jeito que as coisas vão, o Cristo Redentor que se cuide. Já escuto a trilha sonora do plantão jornalístico da Rede Globo. Alvoroço. Medo. Indignação. A tela da TV vai nos mostrar um Corcovado vazio e solitário. Diante do roubo do Redentor, haverá ainda quem diga que o Cristo não foi roubado, apenas se cansou de ficar de braços abertos para uma humanidade que rouba a si própria e foi embora.


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