Daniel Campos

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04/08/2010 - O castelo, o curió e o pé de marmelo

Ao lado da minha casa tem um pé de marmelo. E numa das galhas desta árvore tem um castelo. É ali que faço a minha imaginação voar de volta aos tempos medievais. Depois de passar pela ponte levadiça, eu percorro calabouços e torres, escudos e brasões, costumes e lendas. Tudo isso ao canto de um curió que insiste em pousar no meu pé de marmelo. Porém, eu confesso que a cantoria só dá mais charme ao lugar. Não me importo em dividir a vista com o pássaro. Afinal, ele é a mascote da cavalaria. Sir curió, o paraninfo da minha fantasia.

O meu reino se estende pelo quintal afora, passando pelo vale das margaridas, pelos subterrâneos das formigas cortadeiras, pela colônia das vespas carniceiras e pela floresta dos besouros que têm chifres de touros. Mas eles não têm acesso aos aposentos do meu castelo. Nem mesmo o curió ultrapassa o limite das minhas janelas curvilíneas. Daqui, do meu castelo, erguido no alto de um pé de marmelo, eu vejo o sol se pondo no mundo detrás da cerca da rua do fundo ao som do violoncelo do curió.

A única pessoa que visita o castelo é a minha rainha. É ela a responsável pela riqueza dos detalhes dessa construção, bem como a presença dos anjos tocando gaita-de-foles. É com ela que danço pela suntuosidade dos muitos salões de festa. É ali que eu guardo uma rica coleção de objetos pessoais, fotos e manuscritos dos meus sentimentos ancestrais. É ali que eu leio as poesias que faço como proclamações reais, sob a benção dos cardeais e a regência do curió que canta o canto doce do marmelo pelos confins do meu castelo.


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