Daniel Campos

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11/02/2011 - O capeta que se cuide

Enquanto muita gente não quer nem ouvir falar no coisa-ruim, o velho Joaquim, que adora fazer marketing a respeito de sua bandidagem, garantiu que seu maior desejo é encontrar o diabo e lhe meter seis tiros na cabeça. Diz que uma legião acredita no demônio, atestando sua existência por meio de textos de livros sagrados e de experienciais reais. Já chegou muita conversa em seu ouvido, mas até agora não ficou frente a frente com o capeta. E lamenta profundamente por isso. No seu entender só pode estar ocorrendo duas coisas: ou o chifrudo não existe ou está bem escondido, com medo do que vem pela frente.

Diz que reza todos os dias para que Deus coloque Lúcifer em sua frente. Aquele homem que diz ter aprontado o diabo, tendo até algumas mortes nas costas, considera-se uma espécie de justiceiro, de salvador, de apocalipse. No alto de sua sobriedade, declara que é um soldado dos céus e que está pronto para cumprir a missão que lhe foi designada. Para isso, guarda em segredo um trabuco especial. Teima que foi um anjo que levou a arma lá pra sua casa anunciando o papel que teria de cumprir. Só me contou esse segredo porque me considera pessoa de confiança e também porque lhe contaram que eu sei onde mora o cão.

O homem que tanto pergunta tem sempre uma resposta na ponta da língua. E por que seis tiros? Porque o número do demônio é o sessenta e seis. Mas como não dá pra atirar esse tanto, seis disparos caprichados já estão de bom tamanho. E por que atirar na cabeça? Porque dizem que o belzebu mora na cabeça das pessoas. Então, nada mais certeiro do que matar o chefe do bando, isto é, o diabo que mora na cabeça do diabo. Não se sabe se o sol que toma o dia todo na cabeça ou dos tragos de conhaque que bota no peito tem alguma culpa nisso, mas o fato é que o velho Joaquim não está de brincadeira. O capeta que se cuide.


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