Daniel Campos

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18/05/2011 - O amor e o pânico na mesma canção

Quem tem medo de andar no bosque sozinho durante a noite? Quem tem medo de encontrar um ser metade homem metade bode na floresta? Quem tem medo das sombras e das caretas das árvores? Quem tem medo dessas e de outras coisas pode se preparar, pois hoje é dia de Pan, o deus dos bosques e do pânico.

Mas Pan, o deus que passava o tempo caçando nos campos ou dançando com as ninfas, também teve medo. Medo da solidão. Ele se apaixonou por uma ninfa chamada Syrinx, mas ela não quis nada com alguém que tinha pernas, orelhas e chifres de bode. Como não querer o amor de um filho legítimo de Zeus?

Ele se revoltou e espalhou pânico pelas florestas. Caçou Syrinx como quem caça sua última presa. Sem ter mais para onde correr ou esconder, ela pediu as ninfas do lago para que mudassem a sua forma. Syrinx foi transformada num bambu. Pan ainda a alcançou, mas quando a tocou percebeu que não era mais sua amada de pele sedosa e olhos claros.

No entanto, Pan não deixou a ninfa em paz. Cortou o bambu e fez dele uma flauta. Pela floresta afora, espalhou sua música como quem espalha as sementes de um amor não correspondido. A beleza do som da flauta, embora fizesse jus a Syrinx, tinha notas de uma tristeza que afligia todo e qualquer coração, seja o dos homens ou o das árvores.

Ao mesmo tempo em que Pan tocava o amor, entoava o pânico.


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