Daniel Campos

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28/09/2012 - O amor dos espantalhos

No meio da plantação eles se olharam com olhos coloridos de botão e, no primeiro vento, misturaram suas almas de palha. As bocas costuradas não podiam entoar o espanto do amor. Sem poder falar com palavras, comunicavam-se por meio da linguagem dos retalhos. Corações retalhados. Buquês retalhados. Sonhos retalhados.

Enquanto o sol quebrava na palha do chapéu do menino, a lua brincava pelas tranças das bonecas de milho. Ah! Como eles queriam se libertar daquela cruz que prendiam seus corpos para dançar pelas ruas do milharal. Se pelo menos aqueles corvos lhe levassem pelos céus ao encontro de uma bruxa que lhes devolvesse a vida.

Triste a sina daqueles dois espantalhos que se amam sem poder se tocar, se abraçar, se beijar. Não têm pés para irem ao encontro um do outro, tampouco mãos para se agarrarem. De tanto desejo, temiam que a qualquer momento pudessem ser consumidos pelo fogo. Se pelo menos ao contrário de espantalhos aquelas palhas recheassem um colchão de casal...


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