Daniel Campos

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28/10/2008 - No meio da estrada...

No meio da estrada tinha uma vaca. No meio da estrada tinha uma vaca, uma novilha, dois bezerros e três cabritos. Parei o carro para dar passagem àquela pequena comitiva. Os animais sem pressa, batiam os cascos no chão de terra encaroçada. Olhavam para o carro e, acostumados com a civilização, ignoravam a minha presença. Pena que não havia uma máquina fotográfica ali. O registro de um Brasil caipira, de um Brasil de anos atrás, de um Brasil da minha infância ficou apenas no fundo da retina empoeirada.

A vaca holandesa, manchada de branco e preto, puxava o estradão levando consigo outros bovinos amarronzados e cabritos pretos, o último deles ainda com um pedaço do cordão umbilical, já seco, pendurado. Ao alto, o azul do céu corria longe e um sol sertanejo bradava forte. Perdidos entre a poeira e o mato seco, os bichos passavam em busca de um pasto, de um riacho, de um coxo com comida farta. Mas qualquer uma dessas cenas parecia estar longe daquelas sete cabeças magras.

Ao contrário de buzinar, fui invadido por uma vontade imensa de aboiar. Mas fiquei em silêncio. Também calei o desejo de descer do carro e tocar aquele gado como boiadeiro que nunca fui. Eu havia crescido e esses sonhos estavam tão distantes de mim quão aquela cena de um final feliz. Meio que engasgado, era hora de continuar a estrada. Piso no acelerador e os animais vão se perdendo no retrovisor até serem apenas poeira da estrada. Da estrada do sertão que morre em mim.


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