Daniel Campos

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25/05/2016 - No escuro do quarto escuro

No escuro do quarto escuro eu encontro sua silhueta ora fazendo acrobacias ora querendo uma poesia. As paredes, pouco a pouco, vão soltando a sua voz que ficou impregnada para além dos nossos lençóis. E é tanta fantasia que eu sou marujo e você pirata, que eu sou astronauta e você estrela, que eu sou surfista e você tubarão. Eu sou presa e você, com toda realeza, a dona da caça. Onça pintada. Onça tatuada. Onça de garras e presas afiadas. Onça, onça, onça, ouça bem, vem e me devora. Pelo escuro do quarto escuro, se sou pássaro, é asa; se sou trem, é trilho; se sou poeta, é poesia. Poesia de noite, de tarde, de dia. Poesia que arde, que dá sangria. Poesia que come numa antropofagia. A criatura comendo o criador. É o grito de Van Gogh. É a loucura de Salvador Dali. É Caetano cantando nosso estranho amor. No escuro do quarto escuro me sinto seguro na sua boca, entre seus dentes e unhas, numa paixão ditada por suas mumunhas. Onça, onça, onça, ouça bem, vem e me devora sem demora pelo escuro do quarto escuro do tempo de um amor mais que puro.


Comentários

28/05/2016, por Ana Laura:

#tudodebom


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