Daniel Campos

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31/07/2010 - Nêga

Nêga, hoje a nossa lua amanheceu tão negra, como que marcada pelo batom da escuridão. Nêga, deixa-me entrar no seu barracão e ver onde você guarda o nosso amor, por debaixo das fantasias e alegorias de crepom. Nêga, sabe que meu coração pertence a sua escola e bate no compasso do seu tamborim. Nêga, eu quero o seu amor negro. Nêga, desejo toda essa folia negra que bole pelo seu corpo num quebrado sem fim. Tem dó de mim, ò nêga, e coloca mais água no seu feijão. Eu lhe sondo no jardim das rosas negras, ò nêga, só para lhe oferecer meu amor num samba-botão, numa flor-canção. Da Portela à Estação Primeira de Mangueira, eu me rendo aos seus passos e abraços negros de domingo à quarta-feira de cinzas e carregos.

Nêga, vamos caprichar no conjunto do nosso samba bom, vamos juntos dar corda pro assunto da nossa evolução. O som que vem do nosso morro, nêga, tem que ganhar as ruas de Saigon numa explosão de serpentina e neon. Socorro, nêga, esses seus olhos tristonhos não combinam com os nossos sonhos. A festa é negra de fora para dentro, de dentro para fora. E como é que você chora, ò nêga. E como é que você quer ir embora, ò nêga. Nêga, deixa-me passar de passista pela passarela dos seus olhares e levantar brindes e mais brindes ao nosso amor pelos bares da favela. Nêga, eu quero me dependurar na sua janela e me misturar a sua noite mais escura de prazer. Nêga, eu espero ser pintado na sua negra aquarela e me deitar na brancura da lua fazendo-lhe nua e impura de querer. De querer me querer e se querer amor, ò nêga.


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