Daniel Campos

Imprimir Enviar para amigo
01/05/2011 - Não dá para esquecer

Não dá para esquecer seu carro lançado contra o muro feito flecha cega. Não dá para esquecer o medo. Não dá para esquecer o nome daquela curva. Não dá para esquecer o drama. Não dá para esquecer o choque. Não dá para esquecer o susto. Não dá para esquecer o sangue. Não dá para esquecer o silêncio. Não dá para esquecer seu capacete pendendo para o lado. Não dá para esquecer a brutalidade das coisas. Não dá para esquecer as marcas dos pneus. Não dá para esquecer os estilhaços. Não dá para esquecer o vazio das arquibancadas. Não dá para esquecer os buracos da narração. Não dá para esquecer o primeiro lugar. Não dá para esquecer aquela bandeira. Não dá para esquecer tantos planos. Não dá para esquecer a falta de notícias. Não dá para esquecer a quebra de expectativa. Não dá para esquecer aquele início de sétima volta. Não dá para esquecer a quebra da barra de direção. Não dá para esquecer aquele lugar da Itália. Não dá para esquecer as fotos, os textos, as falas. Não dá para esquecer os sons, as cores, os dissabores daquele dia. Não dá para esquecer.

Não dá para esquecer um conjunto de sensações ruins. Não dá para esquecer seu macacão deitado no circuito. Não dá para esquecer os trezentos por hora. Não dá para esquecer o choro. Não dá para esquecer a lança que atravessou sua cabeça. Não dá para esquecer as mentiras. Não dá para esquecer o golpe. Não dá para esquecer o helicóptero o levando já sem vida. Não dá para esquecer o boletim médico. Não dá para esquecer o tempo e os temporais. Não dá para esquecer o corre-corre e as pausas. Não dá para esquecer os avisos, os sinais. Não dá para esquecer as manchetes e as entrelinhas. Não dá para esquecer a declarações e reações dos outros pilotos. Não dá para esquecer a dor coletiva. Não dá para esquecer o ponto final. Não dá para esquecer as homenagens. Não dá para esquecer as flores. Não dá para esquecer a multidão querendo se despedir. Não dá para esquecer o adeus solitário e coletivo. Não dá para esquecer a ausência. Não dá para esquecer o que nunca se apaga, o que nunca se vai, o que nunca morre. Não dá para esquecer.

Ayrton Senna, não dá para esquecer.


Comentários

Nenhum comentário.


Escreva um comentário

Participe de um diálogo comigo e com outros leitores. Não faça comentários que não tenham relação com este texto ou que contenha conteúdo calunioso, difamatório, injurioso, racista, de incitação à violência ou a qualquer ilegalidade. Eu me resguardo no direito de remover comentários que não respeitem isto.
Agradeço sua participação e colaboração.

voltar