Daniel Campos

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29/04/2012 - Minha mulher é de Nanã

Sou casado com a filha de uma rainha africana. Sou casado com a filha da Senhora de Dassa Zumê. Sou casado com a filha daquela que morou em um palácio em Daomé, hoje conhecido como República de Benin. Sou casado com a filha da senhora dos pântanos, da lama e da chuva. Sou casado com a filha de uma grande justiceira, que castiga homens e perdoa as mulheres. Sou casado com a filha daquela que tem poder sobre os mortos. Sou casado com a filha da mais respeitada. Sou casado com a filha da mais temida.

Minha mulher é filha daquela que guarda segredos que envolvem desde a morte à geração da vida. Minha mulher é filha daquela que cedeu o barro do fundo da lagoa onde mora para criar a humanidade e que no fim da vida humana quer essa matéria de volta. Minha mulher é filha de uma mulher das águas, vinda de longe e de um tempo muito distante. Minha mulher é filha daquela que canta para levar a morte para longe ou trazê-la para perto.

Sou casado com a filha daquela que não usa nada de metal. Sou casado com a filha de uma senhora de voz rouca e forte, baixa e pausada. Sou casado com a filha da mulher que tem medo de altura. Sou casado com a filha da rainha que governa a fronteira entre a vida e a morte. Sou casado com a filha de uma senhora elegante e cheia de feitiços. Sou casado com a filha da mulher que no jardim de seu palácio tem um quarto para os espíritos dos mortos. Sou casado com a filha de Nanã.


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