Daniel Campos

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25/11/2015 - Meus óculos e Iemanjá

Já estava me despedindo do mar quando Iemanjá quis os meus óculos. Estavam comigo há quase dez anos, mas isso não é nada diante do querer da rainha do mar. Eu não relutei, tampouco reclamei. Pelo contrário, agradeci. Afinal, Iemanjá quis algo meu. E, inconscientemente ou não, sorri. Dei de bom gosto. Não sei o que queria com meus óculos velhinhos, mas isso também não me compete saber. Se Iemanjá quer, Iemanjá terá. Hoje ainda penso como ela deve estar fazendo uso deles. Talvez esteja vendo por aquelas lentes tudo o que eu vi em quase uma década olhando por aí. Muita coisa ficou capturada naquelas lentes. O valor de lembrança certamente é muito maior do que o financeiro ou estético. E ela quis minhas visões, o que chegou do mundo até meus olhos. Iemanjá viu tudo o que eu vi nos últimos anos. Dividir minhas visões com a rainha do mar é algo que me fez sair daquelas ondas em estado de graça. Iemanjá sabe agora tudo o que eu vi e vivi. Enquanto muitos dão espelhos, flores e perfumes para Iemanjá eu, de certa forma, dei os meus olhos.


Comentários

07/03/2016, por Rogério Penatti Gaglias:

Gostaria muito de ter esta sua serenidade depois de uma "Oferenda compulsória à Iemanjá".Estou tentando curar minha dor, por isso estou aqui procurando companheiros que também "ofereceram" algo à Rainha do Mar. Mas pelo seu ponto de vista, Iemanjá saiu perdendo com meus óculos, pois serão pouco menos de um ano de imagens que foram registradas com eles...


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