Daniel Campos

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02/10/2012 - Meu coração ancestral

Meu coração ancestral anda pelos céus de Luanda e pelos mares de Portugal. Meu coração ancestral tem raízes negras, imperatrizes brancas, felizes caboclas e uma boca que fala uma língua cada dia mais louca. Meu coração ancestral é forjado nos tambores do carnaval, nos suores do canavial, nas cores do cafezal. Meu coração ancestral, símbolo de resistência e fé, beija os pés da santa, encanta-se com a magia de uma mulher e bate no ritmo do candomblé.

Meu coração ancestral traz em seu pulsar mais visceral a mistura do doce dos engenhos de açúcar e dos temporais e do sal do choro das portuguesas do cais e das escravas que trazem tristeza e beleza num corpo coberto de sinais. Meu coração ancestral se rende ao instinto animal de ora atacar ora se esconder ora fugir. Meu coração ancestral é negro, branco, mulato, vermelho, azul, verde, grená como um sabiá camaleão, um pássaro místico do ar...

Meu coração ancestral é multidimensional, podendo ser visto ao mesmo tempo no ontem, no hoje, no amanhã e no depois de amanhã. Meu coração ancestral, um serviçal do sentimento que o percorre, transformando-o em chão, em chama, em vento, em florais. Meu coração ancestral já enfrentou feras, secas, fomes, lâminas e fúrias zodiacais. Meu coração ancestral tem memórias que vão além das histórias oficiais.

Meu coração ancestral é um só sendo casal.


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