Daniel Campos

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05/12/2013 - Menina-flor

De repente, sem maiores explicações, apareceram flores no quarto da menininha, que se espantou, no bom sentido, com aquela floração inesperada. Na verdade, um vaso com duas hastes de orquídeas num lilás que chamava para si outros tons, provocando ilusões de cores. Ela não entendeu como o presente havia ido parar ali, mas acreditava ser coisa de algum príncipe desconhecido de um reino não menos impossível que o seu. Mas que importava saber isto ou aquilo quando o que ela mais queria era curtir por completo aquelas flores que chegavam a dizer encantos aos seus ouvidos de pérola.

E por dias a fio, a menininha ficou mais tempo do que tinha costume em seu quarto falando com aquela orquídea sobre um mundo que jamais tinha conversado com ninguém. A flor tinha algo fora do comum, um quê de desejo, de querer e de provocar mais e mais fantasias em alguém que já vivia com a cabeça nas nuvens ou com os pés na lua. Ela não tinha fome, sede ou necessidade de se encontrar ninguém, nem mesmo com suas bonecas, diante daquela orquídea de providência encantada. Vários seres dos seus livros de ninar preferidos, de uma hora para outra, começaram a habitar as flores.

Falavam sobre viagens a territórios ainda não descobertos, sentimentos ainda não conhecidos pelo homem, poderes não utilizados por estas terras... Trocavam segredos, receitas, mistérios, encantamentos... Eram feitas da mesma essência: magia. A flor, para espanto dos pais da menina, não murchava nunca. E havia quem jurasse que os olhos da menina eram de orquídea e as orquídeas floriam olhares daquela pequena e grandiosa criatura. Difícil saber quem era quem. A orquídea parecia andar, brincar, cantar e a menina chegava a ser regada e flertada pelos beija-flores mais abusados e românticos.


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