Daniel Campos

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30/11/2010 - Macumbeia

Os caminhos estão fechados, truncados, amarrados. Deixa estar. A pomba gira está girando no meio do terreiro. E aviso desde já que o caboclo desce cada dia mais faceiro. Que venha o gato preto cruzar a nossa frente enquanto o feitiço apura no caldeirão. É olho gordo, é engodo. É azar, é mal-estar, é agouro. É a língua do louro. Língua afiada, língua amaldiçoada. Tudo isso é a praga da praga que estão a nos rogar. Que os santos anjos se ponham em guarda para nos livrar de tantos quebrantos. Vem para cá, vamos macumbar. Vamos lá, fazer encanto no canto da lua de pimenteira. Êê, feiticeira me conta o segredo do seu bruxedo. Êê, fada arteira me ponha medo no seu ritual mais ancestral.

É a má-sorte. É a morte rondando a encruzilhada. É, menina, o beijo do ebó. É coisa feita, menino só. Quem é que passa no despacho da mironga? Eu passo de tonga. Ô morena dos olhos de bruxaria, amarra a minha poesia na barra da sua saia. E antes que a estrela caia, pai-de-santo mandou beber champanhe e comer galinha preta sem fazer careta. Mandinga pra lá, mandinga para cá. Vamos macumbar. Costura a boca do sapo, arranca à pena do corvo, corta a unha do jacaré... mas é preciso ter fé, senão o feitiço não dá pé. Vamos fazer fogueira à noite cheia para abrir os caminhos, espantar a inveja e trazer o amor na palma da mão, macumbeia, macumbeira.


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