Daniel Campos

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01/10/2013 - Lua amarela

Depois de se banhar por longas horas em chuvas estelares, a lua apareceu amarela no sétimo céu. Um amarelo construído e distribuído em vários tons e semitons, mas visto, por cada ser, em uma coloração única. Um amarelo misterioso que astrônomos não sabiam explicar. Um amarelo bebê, responsável por espalhar suavidade pelas sombras do universo. Um amarelo quindim, doce e irresistível, motivando devorações particulares e coletivas. Um amarelo mel, que transformava olhos em abelhas que voavam alto tentando se apoderar daquele favo celeste. Um amarelo carambola, de uma geometria com várias faces e facetas. Um amarelo princesa, capaz de envolver o mundo em um conto de fadas moderno e sedutor. Um amarelo natural, artificial e sobrenatural ao mesmo instante.

Um poeta chegou a cantar que era um imenso girassol flutuando pelo ar. Porém, não se tratava de um girassol qualquer. Uma flor independente, que girava quantos graus quisesse mesmo sem a presença do sol. A lua, uma pedra preciosa (um citrino ou um topázio) solta pelo ar. Porém, uma pedra viva que pulsava fantasias e atiçava romances. Impossível dizer quantos casais se formaram ou se reafirmaram sob aquela lua amarela. E aquela amarelidão provocava contrações, mudava marés, mexia com o tempo das plantas. A lua, em sua amarelitude, madurava nossas paixões no pé. Isso sem contar que seu perfume amarelo, uma espécie de pólen, dava um novo sentido às vidas humanas. Uma lua que assim que começou a queimar amarela ganhou o nome de milagreira.

Enquanto a lua ardia naquela espécie de febre amarela, a Terra delirava e a ilusão tomava de conta. Dizem que até os planetas mudaram de ordem para cultuar e flertar com aquela lua. Uma lua vestida de ouro. Uma lua de Oxum. Uma lua que havia sido amada no Jalapão. Uma lua cheia de amarelitudes. Uma lua que minguava guerras e desencontros. Uma lua nova em cor, forma e conteúdo. Uma lua crescente de sonho, fonte de promessas e sonhos. Uma lua que provocava a floração tardia ou antecipada de todas as flores amarelas, uma verdadeira primavera de acácias, rosas, jasmins, margaridas-de-paris, amores-perfeitos, lírios dourados... Uma lua que havia se despido dos alvos véus e aparecido com uma espécie de lingerie amarela atraindo anjos e demônios por entre suas rendas de magia, destino e mistério.


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