Daniel Campos

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08/06/2012 - Louco de pedra

Alguém me interne, por favor! Eu estou surtado. Uivo quando vejo a lua, choro com a chuva e viro pedra ao sol. Já espalhei meus retratos falados pelas esquinas. Minhas pupilas giram, giram, giram como bailarinas. Já pulei da ponte. Já rasguei dinheiro. Já passei pro outro lado do espelho. Mais do que conversar, eu bebo com deus. Corra da polícia, enfrento ladrão. Durmo de ponta-cabeça. O remédio é a minha doença. Já me benzi com as rezas dos ateus. Caio em pé. Corro atrás da minha própria sombra. Sou um sonho-bomba, explodo a qualquer hora, em qualquer lugar. Eu recebo a bala. Eu sou o ponto final na capa do livro.

Eu troco o dia pela noite. Eu não tenho medo de nada. Eu ando pelo avesso. A minha mentira é de verdade. Eu confundo sal com açúcar. Saio nu pelo inverno. Viajo no tempo. Mordo pra cachorro. Vejo anjos, danço com demônios. Esqueço-me de respirar. Eu ando em círculos. Sou o nunca se casando com o sempre. Eu me perco de mim. Eu sou do impossível. Eu sou a cruz onde morreu Jesus. Eu pulo na fogueira. Eu atraso os relógios. Eu jogo com a morte. Eu tatuo as nuvens. Eu pulo de estrela em estrela. Eu sou o fim da picada. Sou a personificação da fala de juízo. Eu sou o túnel no fim da luz. Eu me mato só para fazer meu parto outra vez.


Comentários

14/06/2012, por Cláudia Costa:

Adorei.


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