Daniel Campos

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08/11/2008 - Liras do Campônio

Ele acorda e faz da lua o seu sol. Caminha pelo escuro da estrada escuridão e testemunha o dia nascendo no fundão. A estrada é de pó e de poeira, e a esperança vai por companheira. E como cigarra do sertão, canta para espantar a solidão. Canta como o último trovador as trovas românticas de um tempo cantor e, outrora, sedutor. Fala de amor, fala de saudade, fala da cor daquele beijo e da cidade do desejo. Será ficção ou realidade?

Só que ao contrário daqueles que não passam por ele, porque dormem ou esperam o sol, ele canta em italiano. Não há engano naquele descendente de sicilianos que vieram para cá tentar outros planos. E como um tenor, canta a dor de um tempo cantor. E quem está na cama, detrás das cancelas, no fechar das janelas, sonha e ama em outra língua. Ah! Que seja bem vinda a lira do cantor sonhador.

A senhora faz café, escuta aquela canção e já sabe que se trata do campônio da solidão. O menino, debaixo das cobertas, pensa que é voz de assombração. E a moça donzela pensa que a música é só pra ela. Já o senhor sai ao portão a tempo de avistar o rastro daquela embarcação italiana que vai cortando o sertão pelo mar da escuridão. E quando o sol nasce há somente o silêncio das sementes de um canto. Ou será de um pranto?


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