Daniel Campos

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03/01/2013 - Liquidação

As fantasias restantes do Natal estão quase de graça. Os sonhos do mostruário, arranhados e manchados, estão bastante em conta. Os descontos variam bastante no setor da ilusão. Cuidado com paixões baratas. Cuidado com cheques assinados pela esperança e datados do ano passado. A alegria está em liquidação nas vitrines. Queima total no estoque de expectativas. Depois do réveillon, promessas são dadas de brinde. O amarelo ouro, o rosa amor, o branco da paz perderam o preço e o significado nas bancas. Há um verdadeiro saldão de desejos. Querendo ou não, os presentes são trocados pelo passado.

Isso porque no início do ano tudo o que era objeto de sonho torna-se refém da realidade. As abstrações são devoradas pela concretude. O espírito natalino dá lugar ao espírito de porco. Os fogos de artifício são engolidos pelos buracos negros. Os sorrisos fartos ficam restritos aos porta-retratos. Ninguém mais levanta brindes em nome da prosperidade, da união e da felicidade. A magia em torno da mudança cai aos pés da mesmice. Os magos do Natal e as bruxas do Ano Novo são vencidos novamente pela rotina. Os encantos são quebrados pelo tempo, que se consolida como o senhor do mundo e das vidas.

O tempo diz, com todas as letras, que nós não somos nada além de nós mesmos. O tempo corta as asas que nunca tivemos, mas que sempre desejamos. O tempo fecha os caminhos alternativos que buscamos abrir rumo a um reino encantado. O tempo nos curva a sua soberania, colocando-nos na posição de escravos de suas voltas. O tempo nos oprime com seus ponteiros. O tempo acaba com nossas pretensões absurdas. O tempo liquida toda e qualquer quebra de expectativa que ousamos experimentar em uma época em que tudo parece possível. O tempo impõe suas vontades e nos transforma, mais uma vez, em saudades.


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