Daniel Campos

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03/11/2009 - Lições da contradição

Dia após dia participamos de uma guerra. Não se trata de um conflito militar ou civil, mas de uma batalha interior entre o que somos e o que queremos ser ou ter sido. O relógio desperta quando queríamos que ele não despertasse. Abrimos os olhos, mas queríamos que eles ficassem fechados num estágio qualquer do sono. Vestimos roupa de trabalho quando o desejo era de colocar uma roupa despojada de final de semana. Entramos debaixo do chuveiro embora a vontade fosse de se entregar as águas de uma cachoeira. Tomamos café, porém queríamos abocanhar o mundo com muito chantilly.

Saímos de casa quando a vontade era de ficar trancado nela. E logo nas primeiras horas da manhã choramos muitas separações mesmo nosso corpo querendo ficar junto de outros corpos. Entramos em carros, ônibus, trens quando queríamos estar num barco à vela. Chegamos ao escritório com a sensação de que estamos no purgatório. Os compromissos nos obrigam a ficar embora o instinto nos manda sair correndo. Queríamos viver ao céu, mas logo nos vemos cercados de mesas, cadeiras e máquinas numa bolha de estresse e frustrações.

Queríamos inventar outra civilização, outra forma de viver, outro jeito de ser feliz, no entanto, caímos na rotina de sempre. Queríamos jogar tudo pro alto, mas nos rendemos ao medo. Ao medo de ser quem queríamos ser. Cruzamos os braços quando deveríamos abri-los. Silenciamos quando deveríamos gritar. Buscamos maneiras de nos conformar quando deveríamos buscar maneiras de nos rebelar, de nos resignar, de nos transformar. Tudo depende e ao mesmo tempo independe de nós. Tudo é sempre nada e nada é sempre tudo nessa anti-vida que vivemos ou que morremos dia após dia.


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