Daniel Campos

Imprimir Enviar para amigo
26/04/2016 - Leia-me

Leia-me antes de dormir e ao acordar. Leia-me na hora do café, do almoço, do jantar. Leia-me andando, malhando, amando. Leia-me para se apaixonar ou para se manter apaixonado. Leia-me de pé, com fé, para (des)entender a mulher. Leia-me nas horas de solidão e nas que os sentimentos se alvoroçam feito multidão aí dentro de você. Leia-me com ou sem porquê. Leia-me de todas as formas, jeitos, trejeitos, sem lei, sem normas. Leia-me vestido ou nu, bem-passado ou cru, deitado, de quatro, plantando bananeira. Leia-me em qualquer posição. Fetal, sexual, de meditação. Leia-me por fora e por dentro, pelo avesso, pelo começo, pelas beiradas, pelo fim, pelas horas mais curtas ou mais alongadas. Leia-me a sua moda. Leia-me numa reta, numa curva, numa roda. Leia-me na sacada, na varanda, no quintal, na praia, no campo, na montanha, no espaço sideral. Leia-me na crescente, na cheia, na minguante, na nova. Leia-me em prosa, em verso, em trova. Leia-me em silêncio ou cantando. Leia-me no papel, no computador, no celular. Leia-me em todo canto, em qualquer lugar. Leia-me fazendo crochê, fazendo comida, fazendo amor. Leia-me seco e molhado, chuvoso e ensolarado, aberto e fechado. Leia-me na primavera, no verão, no inverno, na meia estação. Leia-me no quarto, na ladeira, no parque, leia-me todo de parte em parte. Leia-me de óculos, de binóculos e cegamente. Leia-me com luzes frias ou quentes, no nascente ou poente, calma e desesperadamente. Leia-me pelo amor demais, pela paixão à primeira vista, pelo sentimento malabarista. Leia-me para se vestir de palavras. Leia-me para se cobrir de lava. Leia-me como se fosse acabar. Leia-me sem conseguir me deixar. Leia-me entre quatro paredes, no balanço das redes, azul, vermelho, rosa, verde. Leia-me independentemente se feio ou bonito, mas no rito de ler o amor em sua intensidade, em sua vitalidade, em sua profundidade. Leia-me como quem lê o amanhã, o hoje, o passado. Leia-me querendo ser amado, mas não num amor qualquer. Leia-me o quanto puder. Leia-me e deixa vir o que vier. Leia-me desfolhando-me bem-me-quer, malmequer, bem-me-quer, malmequer, bem-me-quer.


Comentários

Nenhum comentário.


Escreva um comentário

Participe de um diálogo comigo e com outros leitores. Não faça comentários que não tenham relação com este texto ou que contenha conteúdo calunioso, difamatório, injurioso, racista, de incitação à violência ou a qualquer ilegalidade. Eu me resguardo no direito de remover comentários que não respeitem isto.
Agradeço sua participação e colaboração.

voltar