Daniel Campos

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03/06/2015 - Julião e Indaiá

Lá no chapadão, cravado na pedra, está o amor entre o pássaro Julião e a ave Indaiá. O que será que isso vai dar? Julião é pássaro vivido, mas até conhecer Indaiá andava entristecido, até voava com outras pássaras, mas sempre voltava à solidão na sombra da sua fenda. Indaiá, ave prendada, que faz renda e se rende às lendas da noite enluarada. Já se apaixonou pelo sabiá que a deixou a deus dará. Já se enredou pelo curió que lhe largou num estado de fazer dó. Já se aproximou do canário que gostava mesmo de cantar lá pelas bandas do balneário. E agora Julião? O que será Indaiá? Julião voa ligeiro, é todo fagueiro, não suportaria ser trancado num viveiro e gosta de comer o que sai do formigueiro. Indaiá nasceu num pé de jatobá, adora bicar ingá, tem pontos grená e canta sempre puxando pro lá. É um casal bonito de se admirar, mas ninguém sabe o quanto isso vai durar. Indaiá não quer se machucar. Julião já cansou de chorar. Os dois são do ar, mas também são de se desencontrar. A fenda de Julião é estreita. Na fenda de Indaiá só ela se deita. E os dois ficam a se empoleirar pelas pedras, o conjunto de asas chega enverga, ficam a se bicar sem medo da queda. O amor cega e mesmo assim não sossega.


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