Daniel Campos

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26/07/2008 - Joyeux Anniversaire

Hoje, ao menos o teu mundo, minha namorada, amanhece diferente. E não adianta correr para o espelho em busca dos afagos do tempo, tampouco correr a janela e olhar o lá fora. A mudança não se dá ao desfrute dos olhos nus. Ah! Passaram-se dias, semanas, meses. As ilusões estão mais maduras. Os sonhos, mais palpáveis. E os sentimentos, mais duráveis. Ò minha doce amada, como é bom testemunhar o milagre do amor que emana de teu corpo. Eis que o teu amor não envelhece. Ao contrário, bebe de uma espécie de fonte da juventude que a cada dia o torna mais forte e bravio. E eu te amo mais e mais e demais a cada nova dança de ponteiros. E como um bolero, eu te quero em cada passada mais perto.

Ouso dizer que hoje, em especial, a tua carne ganha uma espécie de primavera fora de época. E a alma, uma semeadura de canções. Canções de outrora e canções do amanhã vão nascendo do teu piano interior. Ah! Como eu queria encontrar os pássaros do tempo que habitam a tua boca e, entre um vôo e um canto, entoam a tua magia. O destino, em feitio de trem, vai fazendo seus trilhos, abrindo caminhos, cruzando outras linhas. E do alto da locomotiva que traz os vagões da tua vida, você olha para o caminhando que vai se perdendo como os dias do último ano e tem a certeza do quanto foi bom não se dar por vencida. O horizonte que roça teus olhos é lindo e inspira novos passos. Os ventos do tempo envolveram teu corpo, decantaram tua beleza e o útero dos céus pariu uma nova mulher - ainda mais bela e poética.

E hoje, dar-te-ei o que minha amante? Posso tão pouco, mas queria te dar o que ninguém jamais ousou. Posso te dar um texto, uma prece e beijos da orquídea, que em reflexo te quer tão delicada quão selvagem. Ah! Queria te dar a minha língua portuguesa na tua língua francesa em um Feliz Anniversaire ou em um Joyeux Aniversário. Ah! Mon Amour, eu, este poeta que recebe as tuas asas, queria te dar os cavalos de São Jorge para cavalgarmos pelas luas que vão nascendo e minguando diante destes teus olhos de menina. E depois de brincar pelo infinito do universo, fazendo de cada estrela a tua boneca, desceríamos pela calda de uma estrela cadente. E a cada anoitecer, sobre a lua de cetim, caída de tanto amor, e o canto dos anjos apaixonados, conheceríamos o final feliz que Romeu e Julieta não puderam ter. E quando o sol raiasse e resgatasse a realidade, de mãos dadas, caminharíamos pela longa estrada de José e Maria.

No entanto, queria te ofertar ainda mais. Queria te dar-me menino, daquele que se achava super-herói capaz de vencer todos os vilões do medo. Se eu tivesse segredos, pode estar certa, que os daria em confissões a roçar o teu ouvido. Mas não os há. De mistério agora, restam apenas os teus. E estes, eu faço questão de conservar intactos. Queria dar-te os desejos daquele menino que viveu em mim uma dimensão paralela buscando e sonhando uma bem amada que ainda não existia. Ao menos, não existia perto. Ah! Hoje te dou os botos cor-de-rosa e as rosas cor-de-boto e todas as lendas de amor eterno que eu, na tua esperança, sempre acreditei. Hoje, dou-te as chamas das velas que ascendi para aliviar a solidão da tua ausência. Hoje, dou-te o primeiro poema que te fiz ainda sem saber teu nome.

Hoje, dou-te a eternidade. Ao menos, a minha. Dou-te o peito aberto em prova de amor latente e explícito. Como naqueles faroestes antigos, dou-te a minha coragem e desafio os seres das águas mais profundas, as criaturas que habitam os porões da terra, os anjos das trevas a negarem o sentimento que me invade e arde em teu louvor. Quero dar-te a graça de jogar as lembranças ruins no desfiladeiro do esquecimento e povoar a tua caminhada de bons momentos. Quero dar-te o primeiro sopro do meu amor, que como um apocalipse, fez nascer em mim uma nova era. Um era chamada Marilene. Ah! Se, ao menos, eu pudesse hoje te dar o gosto de felicidade que fez impregnar em meu sorriso, manchando teu batom no tom do meu contentamento, teria a certeza de que seu aniversário seria mais que feliz aniversário.


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