Daniel Campos

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08/01/2010 - Jandaias

Como é bom acordar pela manhã e, ao saudar o dia recém-nascido, encontrar um casal de jandaias nas galhas desfolhadas por um outono fora de época. Equilibrando-se entre as cruzas dos ventos sudoestes, os enamorados periquitos realizavam uma espécie de dança naquela árvore do cerrado. De maneira bastante sutil, beijavam-se, agarravam-se, desejavam-se. O céu gritava azul ao contrate das duas jandais que insistiam em misturar seus corpos verdes.

A poucos metros de distância tentei escutar o que diziam. Mas como não entendo jandaês, pus-me a imaginar o cancioneiro poético que o macho soprava no ouvido da fêmea. Não estavam discutindo a relação, afinal a conversa era intimista demais. Também não falavam amenidades, pois as palavras motivavame e eram motivadas por carícias. Devia ser algo impróprio para o horário já que o barulho costumeiro das aves se restringia a sussurros.

O encontro tinha ares de conquista. E de um conquista antiga. Não era o primeiro encontro. O casal tinha muito a dizer um para o outro e demonstrava, pelo gestual, um elevado grau de intimidade. Onde aquela conversa iria dar? Diante de curiosos que passaram pela rua com olhos de estilingue fiquei sem saber a resposta. As jandais emuderam e se entreolharam para, logo em seguida, voar ladeando as asas uma das outras. Continuariam a conversa em outro lugar.


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