Daniel Campos

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03/08/2011 - Inocente ilusão

Ele vivia num mundo surreal. No mundo da lua. No mundo da imaginação. No mundo das canções. Ele vivia num mundo de plumas e molas, capitão do seu colchão à vela. Navegava pelo quarto, enfrentava os pesadelos com pernas de pau e de um olho só. Volta e meia se apaixonava por uma sereia e acordava nu na areia.

Cavava seu jardim à procura de um tesouro perdido. Conversava com duendes, flertava com fadas, passeava em naves espaciais. Cavalgava em um unicórnio pelas florestas e se pegava montado em uma cadeira, pulando pela sala de jantar. Conversava com a lua, se dependurava nela, até que alguém lhe mandasse largar o lustre.

Vivia uma série de aventuras. Misturava histórias e tempos. Eram mil e um personagens dentro de um menino franzino. Havia morrido e renascido milhares de vezes no seu mundo imaginário. Sua cidade era no fundo de um aquário e seu peixe dourado, um tubarão enfeitiçado. Já passara dos trinta anos, mas ainda era uma inocente ilusão.

Amava como amam os anjos caídos. Sonhava como sonham os pássaros. Tinha laços com os reis. Rodava os reinos num balão de gás. E duelava com os dragões numa guerra de travesseiros. Recebia a visita de deuses e caçava assombrações. Ora era pequenino, como uma formiga, ora era gigante e bom de briga.

Nasceu, cresceu e permaneceu menino. Uma bruxa lhe dera um coração encantado, jurado à infância eterna. Criança barbada, pujança da cara pintada. Escalava montanhas de almofadas, destruía castelos de cartas. Tinha fome de leão e mudava de humor como de cor muda um camaleão. Era um homem-menino, uma inocente ilusão.


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