Daniel Campos

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14/12/2011 - Infeliz aniversário

Olha lá aquela menina que não sabe para onde vai. Hoje ela completa três anos de idade e ainda não ganhou sequer um abraço. Há três dias a mãe está sumida. Talvez na cadeia, talvez caída drogada. Ao contrário de bolo e docinhos aquela menina sonha com um pedaço de pão amanhecido. Afinal, é o que seu estômago conhece. Caminha com os pés sujos, com os olhos de remela e a cabeça cheia de piolhos e medos. Ela chora por um prato de comida, por um pouco de colo e afeto. O que ela recebe mais próximo de um beijo são as lambidas de um cão sarnento. O sol e as estrelas são o teto daquela menina que cresceu sem mamadeira, sem fraldas, sem canções de ninar, sem o mínimo do mínimo do mínimo de cuidado.

Até hoje ela não sabe o que é ter um aniversário. Nunca ninguém lhe cantou parabéns. Nunca lhe deram um presente. Nunca se fartou de brigadeiro. Caminha subnutrida, subamada, subvivida. Em dias de sol, enche a boca de poeira. Em dia de chuva, chafurda na lama como os porcos. Cabelo embaraçado, pés descalços, roupa descorada. Até suas poucas palavras são sujas. Com uma vida imunda, caminha corcunda pelo peso de um mundo que já lhe mostra seus piores castigos. Onde está Deus que não vê tudo isso? Onde estão as fadas dos contos de fada? Onde está o amor entre pais e filhos?

Pra onde vai aquela menina? Será que ela vai conseguir sobreviver até o próximo aniversário? Será que ainda há esperança dela ser feliz? De tanto ser abandonada e levar porrada aquela pequena criatura ainda não conheceu o que é carinho. Será que um dia ela vai conseguir amar sem nunca ter sido amada? Será que ela vai ter outra escola que não seja a miséria e a tristeza e o crime? Pra onde vai aquela menina que anda pra lá e pra cá sem rumo? Quem sabe se hoje, por algum milagre, um anjo qualquer resolva abrir os olhos e lhe dar um destino como presente de aniversário. Um destino que não seja a morte, ou a pena ou qualquer coisa de óbvio.


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