Daniel Campos

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06/10/2012 - Identidade nas mãos

O que eu trago nas mãos diz muito mais sobre mim do que meu rosto. Quase sempre elas caminham vazias, porém fartas de linhas, e caminho e destinos. A minha alma é impregnada de profecias, de possibilidades, de adivinhações. Mãos tão calejadas quão um coração apaixonado, que trabalha sem parar em nome de um amor maior. Mãos que se dão às outras mãos como eu me dou às ilusões, de forma total.

As minhas mãos trazem papeis, pedaços de jornais, manuscritos apocalípticos, páginas sagradas e capítulos de romances. Esse sou eu – escritos, ditos e não ditos. As minhas mãos trazem uma aliança quadrada, pois o amor que sinto tem os lados paralelos dois a dois. O amor que sinto não tem uma única forma, pois todo quadrado é também um retângulo e um losango. Além do mais, os quadrados são mágicos.

Terra. As minhas mãos trazem punhados de terra. Eu sou planta, arbusto, floresta. As minhas mãos trazem sementes de sonho. Sonhos de carne, de ar e de açúcar. E eu nada mais sou do que um sonho em construção. As minhas mãos trazem as cordas de um violão, os reflexos da lua e a invisibilidade da fé. As minhas mãos trazem a textura viva do corpo da mulher amada. As minhas mãos trazem, ao mesmo tempo, o encontro e o adeus, sou chegada e partida.


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