Daniel Campos

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27/03/2008 - Hoje tem marmelada?

Onde estão os palhaços gritando "hoje tem marmelada? Tem sim senhor!"? E os trapezistas que cortavam o céu, será que caíram? Onde estão as lonas amarelas, vermelhas, azuis tingindo a cidade? E os domadores de leões, será que foram domados? Onde estão os mágicos e seus coelhos e suas cartolas? E os chipanzés vestidos de menino, será que fugiram em suas bicicletas? Onde estão aqueles acrobatas que embaralhavam nossas vistas? E os contorcionistas, será que se quebraram?

Quantos já acreditaram que a vida era um grande circo, mágica e fantástica. Quantos já sonharam em voar em trapézios e rodar nas motos do globo da morte. Quantos já quiseram ter em suas bocas o riso eterno dos palhaços? Quantos já comeram pipoca naquelas bambas arquibancadas de madeira? Quantos já esperaram para ouvir: respeitável público...? Quantos já sujaram os pés de serragem na esperança de ter uma tarde ou uma noite mais delirante? Quantos? Quantas?

No começo era só um terreno vazio. O silêncio da paisagem era cortado por carretas e mais carretas coloridas. De repente, artistas faziam um cordão e pediam passagem aos josés e as marias do cotidiano. Em um dos cantos da cidade, feito um castelo de pano, erguiam-se lonas listradas de fantasia e sedução. Feito um pó mágico, aquele cenário deixava as crianças inquietas. A notícia se espalhava e formava-se até fila para comprar bilhete. Ah! Quantos já sonharam que aquele bilhete era o passaporte para um outro mundo? Quantos? Quantas?

Hoje, tudo é concreto e deserto. Hoje, as lonas foram rasgadas. Hoje, a magia está em falta. Hoje, os picadeiros se espremem dentro da tela da televisão. Hoje, os palhaços não usam mais roupas frouxas, sapatos compridos e narizes vermelhos. Hoje, o domingo não tem mais aquelas duas horas de suspense e comédia. Hoje, circo é sinônimo de velho, démodé, sem graça. Pra onde foi aquele universo mágico. Será que eu sonhei, sonhei, sonhei ou somente cresci?


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