Daniel Campos

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15/03/2010 - Hoje é dia de Jobim

Hoje o dia amanheceu predestinado a dar errado, mas aí o rádio tocou Jobim e o enredo do cotidiano se transformou. Então, de repente, da boca fechada em copas nasceu um sorriso longínquo como a linha tridimensional do horizonte. Era como se as notas daquele piano tivessem o poder da criação. Será, perguntam os profetas do deserto, que os anos dourados de Deus residem debaixo do tampo daquele piano de cauda? Será ali a morada do criador, do salvador, do redentor???

Felizes os convidados a ouvir Tom Jobim. Por meio dos tons de seu piano o moço que andava cabisbaixo pela calçada ganhou ânimo para dançar com os postes; a senhora que passava de sombrinha, rodou, rodou, rodou até cair de contentamento; o velho fraco pensou que tinha ganhado asas e correu de braços abertos por entre o jardim de petúnias tentando voar; o menino se encheu de coragem e roubou da menina seu primeiro beijo; e o poeta colocou pau, pedra e o fim do caminho na poesia do dia...

Quando Jobim surgiu nas ondas do rádio, o script de fim de relacionamentos, separações e brigas conjugais previsto para o dia de hoje se perdeu na correnteza do rio. Quantos corações se realinharam numa conjunção jobiniana? Quantos corpos se reencontram num prazer já esquecido a partir da melodia de um Antônio Brasileiro? E um mundo de sonhos e medos que já havia secado voltou a germinar nos tons de um pássaro lírico que atende pelo nome de Jobim.


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