Daniel Campos

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17/02/2012 - Hamlet apaixonado

O trágico Hamlet, filho de Shakespeare, anda mais apaixonado. Não que paixão e tragédia estejam dissociadas, mas é como se ele tivesse tirado um pouco do peso do mundo que carregava consigo. Mudou de tom e de ares. Trocou o frio da Dinamarca pelo verão carioca e a aristocracia pela fantasia do Carnaval. Continua se interrogando em voz alta, mas já não coloca o suicídio como o que há de mais importante para ser discutido e vivido. Afinal, hoje em dia está um tanto démodé o ato de morrer de amor. E Hamlet está mais moderno, com toques contemporâneos. No entanto, a dúvida do ser ou não ser ainda o persegue em tantas questões e variações, como num bem-me-quer ou mal-me-quer, num beber ou não beber, num trair ou não trair...

Traição, corrupção, incesto e vingança continuam temas atualíssimos. Mas Hamlet hoje já os explora de forma menos teatral. Afinal, tudo se banalizou de um jeito que seu discurso em defesa da justiça e da moralidade não causa o mesmo efeito na sociedade. Conversa com espíritos e com seus próprios fantasmas, mas pensa duas e até três vezes antes de mergulhar fundo em certos assuntos e trazer à tona suas reflexões, indagações, elucubrações... Hamlet está mais reservado. Vez ou outra ainda filosofa em mesas de bar, mas no dia-a-dia se entrega à cultura da superficialidade. Descobriu que a carga de sofrimento é proporcional à intensidade da entrega.

Deixou o Castelo de Elsinore para morar no Morro da Loucura. Uma favela do Rio de Janeiro com fama de ser habitada por quem não fala coisa com coisa. Depois de o pai ter sido envenenado, Hamlet viveu uma série de desilusões amorosas. Paixões que o levaram ao céu e ao inferno. O príncipe foi feito de sapo por muitas mulheres. Chegava a sentir saudade do tempo em que segurava só um crânio vazio em suas mãos. Porém, mesmo pressionado por questões éticas e filosóficas consegue assoviar uma canção de amor. Anos e anos depois, continua encenando sua própria vida. Independentemente da estrutura dramática e da profundidade de caracterização, Hamlet segue apaixonado.


Comentários

17/02/2012, por Rafael Almeida:

parabéns mto bom vc podia fazer o mesmo com outros personagens clássicos


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