Daniel Campos

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04/05/2011 - Galinheiro particular

Ao contrário de Gisele Bündchen, meu avô nunca ganhou os jornais por manter um galinheiro particular. Mesmo assim, a fama de seus ovos e frangos caipiras ganhou a vizinhança. Pudera, as galinhas de meu avô não eram quaisquer galinhas. Eram espécies selecionadas a dedo por ele. Galinhas vermelhas, brancas, pretas, carijós que recebiam tratamentos dignos de princesa: comida de primeira, poleiros cobertos, água de poço, ninhos confortáveis e um terreiro imenso para ciscarem. Também contavam com uma grande ameixeira para se aventurarem entre os galhos e frutos amarelados.

O galinheiro do meu avô não ficava em uma casa avaliada em vinte milhões de dólares, mas tinha um grande valor, sobretudo, sentimental. Aqueles ovos de gema vermelha não eram encontrados em qualquer lugar. Eram artigos de luxo, que meu avô não dispensa em seu prato. Chegava a comer ovo no café da manhã, no almoço e na janta. E jamais teve colesterol. Embora, de vez em quando, vendesse algumas dúzias de ovos e alguns frangos, a produção, a exemplo do que acontece na casa de Gisele, era para consumo da família, deixando muitos com água na boca.

Entre outras proezas, as galinhas de meu avô eram ensinadas. Além de atenderem prontamente seu chamado, aquele pipipi que ele entoava, elas chegavam ao ponto de identificar e seguir sua Kombi, seu trator. Afinal, era ele quem trazia comida, quem cuidava. Os ovos eram apenas um presente em forma de agradecimento. Com a sua morte tudo isso acabou. E mesmo se ainda tiver sobrado alguma de suas galinhas naquele sítio que por mais de setenta anos foi seu, tenho certeza de que os ovos não têm o mesmo sabor.

Um sabor que nem mesmo Gisele Bündchen chegou a experimentar.


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