Daniel Campos

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25/10/2009 - Fonte dos Desejos

Entre a Europa e a Groelândia, uma fonte jorra águas geladas no meio de uma dessas pracinhas pitorescas. Em meio a esse cenário de cinema-arte, uma menina, islandesa de nascimento e tradição, deposita seus sonhos interioranos naquela fonte erguida no centro da capital Reiquiavique. Trezes séculos já haviam transcorrido desde que os primeiros povos - os monges eremitas irlandeses - ocuparam aquelas terras pela primeira vez, mas Kata Petursdottir, castigada pelas coisas do coração, insiste em ser uma fonte de solidão.

Os índices de desenvolvimento humano cansavam de dizer que a Islândia era um dos melhores de se viver. Mas a jovem não concordava com isso. Vivia fazendo daquela fonte uma espécie de altar, pedindo desejos. E a maioria dos pedidos envolvia romance. Não tinha muita sorte com relacionamentos. Acaba ficando a maior parte dos dias sozinha. Seus pedidos de amor eterno renderam tão breves e curtos beijos quão o verão islandês. Kata tem o coração quente, mas isso de nada adiantava na terra do gelo.

Protegida por uma sombrinha amarela nos dias de chuva e por casacos sombrios durante as noites gélidas, a menina flerta diariamente com a fonte. Já havia esbarrado em muitos homens, islandeses ou turistas, nos arredores daquele lugar, segundo ela, habitado por duendes. No entanto, Kata só tem olhos para a fonte, que já havia recebido moedas de vários tamanhos, flores de infinitas cores, gotas de perfumes, botões de sua roupa e até um sapato que não era de cristal. A cada dia a menina se doa mais e mais àquela crendice.

Romantismos à parte, essa fé tem tudo para ser vista como uma bobagem em se tratando do fato dela viver em uma ilha banhada por oceanos e mares. Kata nunca percebeu, mas vive em uma espécie de fonte na qual ela é o desejo em carne-viva.

Observação do autor: Hoje, na Islândia, comemora-se o Dia da Fonte dos Desejos.


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