Daniel Campos

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08/12/2013 - Eu quero um beijo

Eu quero um beijo. Um beijo inesperado e tão esperado ao mesmo instante. Um beijo demorado, com sensação de infinito. Um beijo apaixonado e apaixonante. Um beijo cinematográfico. Um beijo habilidoso, mas com um quê de inocência, de pureza, de encanto. Um beijo como que saído de uma confeiteira. Um beijo trocado, sonhado, falado. Um beijo surrealista, impressionista, cubista... Um beijo que seja o epicentro de tudo mais o que há.

Eu quero um beijo. Um beijo que cause dependência e, ao mesmo tempo, aflore o sentimento de liberdade. Um beijo primitivo, com instintos desconhecidos, mas contemporâneo. Um beijo enlouquecedor. Um beijo provocante, que mexa com hormônios e pensamentos de uma só vez. Um beijo capaz de embaralhar olhos, sentidos e razões de ser e querer. Um beijo que ultrapasse valores, aliás, que passe por cima de todos os limites e juízos pré-existentes.

Eu quero um beijo. Um beijo que sintetize os cinco elementos. Um beijo categórico, no sentido mais amplo da palavra. Um beijo que seja palco de um dueto interminável. Um beijo que imprima uma felicidade nunca dantes vista por aqui. Um beijo que traga amnésias e desapegos. Um beijo que corte fundo. Um beijo que hipnotize. Um beijo que bagunce por completo projetos a curto, médio e longo prazo. Um beijo que se revele sem se revelar.

Eu quero um beijo. Um beijo narcisista, que aconteça perfeito a qualquer preço. Um beijo que seja a chave para a perda total da gravidade. Um beijo que dê forma às nuvens e faça tocar os sinos. Um beijo obtuso, equilátero, hipotenuso. Um beijo que interaja em todos os campos de visão e de cegueira. Um beijo absoluto. Um beijo solitário como um peixinho dourado num aquário. Um beijo que faça ventar, chover, tremer, suar, acender, jorrar, estarrecer...

Eu quero um beijo. Um beijo de “eu te amo”. Um beijo de “eu te quero”. Um beijo de “eu te sonho”. Um beijo de “eu não vou te esquecer”. Um beijo de “eu não vou te perder”. Um beijo que nos transforme em duas bocas, nada além de duas bocas que se desejam. Um beijo flertado. Um beijo com poder de anzol, de nó, de cola... Um beijo que traga para perto, que una, que lace e enlace por tempo indeterminado. Um beijo que ruja aos corações.

Eu quero um beijo. Um beijo criado na hora, com toda originalidade e espontaneidade possíveis. Um beijo que faça os corpos arquearem e se disparem ao paraíso como flechas de fantasia. Um beijo que ignore as regras. Um beijo que derreta como chocolate. Um beijo que se espalhe como epidemia. Um beijo compreensivo. Um beijo que faça aparecer asas, guelras, labaredas... Um beijo entre garras e pelúcias. Um beijo que peça camisa-de-força.

Eu quero um beijo. Um beijo efervescente, seja ele decente ou indecente. Um beijo angelical, mesmo que diabólico. Um beijo sem cortes. Um beijo sem contraindicação. Um beijo que traga atiçamentos generalizados. Um beijo feliz por natureza. Um beijo surpreendente segundo a segundo. Um beijo acetinado. Um beijo pirofágico. Um beijo florido. Um beijo rococó. Um beijo que queime como pimenta e como aquele fogo que arde sem se ver de Pessoa.

Eu quero um beijo. Um beijo que coloque o “etc” em coma. Um beijo lapidado de romantismo. Um beijo viniciano, rodriguiano, à la neruda, à moda de drummond... Um beijo na medida certa entre o abstrato e o concreto. Um beijo de olhos fechados. Um beijo que cheire feito fruta madura. Um beijo sem vergonha de ser beijo. Um beijo que saiba ser manso mesmo movido pelas fúrias gregas. Um beijo hipocondríaco, que se auto-receita beijos e mais beijos...


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