Daniel Campos

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07/09/2014 - Estiagem

Que venha a chuva, pois os corações estão mais áridos a cada dia. Os veios de dor expostos, trincados, assolados. Os cardumes da esperança foram drástica, impiedosa e praticamente dizimados por essa seca. Não sei por quantos dias os cilos onde estoquei minhas fantasias hão de aguentar alimentar a fome de quem ama. Nem o amor mais sertanejo conseguiu passar incólume por essa investida do tempo. Que venham os relâmpagos iluminar os olhos da mulher que se torna mais e mais estiagem. Que venham os trovões romper o silêncio seco que impregna nos leitos dessa mulher que corre em silêncio. Que venham os pingos preencherem a solidão que racha o peito dessa mulher. Que a chuva possa trazer mais do que consolo, possa trazer renovação de ânimos, vontades, desejos. Que a chuva possa movimentar as pedras do moinho interior dessa mulher. Que a chuva possa fazer brotar nela o que murchou, secou, tombou... Que a chuva traga suas pinceladas de cor devolvendo o brilho e o viço ao sentimento que sofre com a secura generalizada. Nem que for preciso que minha poesia cigarra exploda de tanto cantar, mas que ela traga chuva para esses terrenos já tão doloridos e desesperadores. Se ao menos as lágrimas fossem doces haveria alguma certeza para as sementeiras de sonhos lançadas por um poeta ao vento abrasador que de tão duro nem assovia mais.


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