Daniel Campos

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Eleição caipira

- Zé, você já tem candidato?

- Candidato para quê? Pro torneio de catira lá de Porteira Alta?

- Não... acorda Zé, estou falando das eleições do ano que vem...

- Eleição para capitão do time de futebol lá do...?

- Pra prefeito Zé !!! Eleição pra prefeito...

- Ah! Mas cê já têm candidato Neco? Ainda tá tão longe...

- Candidato, candidato, eu não sei... Mas tem aqueles que são sempre candidato. Você sabe né, tem gente aí que não é outra coisa senão candidato. Profissão: candidato. Tem aqueles que falam que são e depois não são e tem aqueles que não falam, mas são. Você entende o que eu quero dizer, né Zé?

- Não vai me dizer que...

Zé olha dos lados e cochica no ouvido do amigo alguns nomes. Neco coça a barba como se fosse dar sinal de truco e balança a cabeça em tom afirmativo.

- Pô, Neco, assim dá até dor de barriga. Não fala isso não. Essas coisas não podem concorrer...

- Diz pra mim, você está mais para governo ou oposição, Zé?

- E tem diferença? Essa gente é igual gata no cio, ora tá de um lado ora tá de outro, mas o que ela gosta mesmo é ficar em cima do muro.

- Mas você não tem preferência de lado Zé?

- Acho que eu preciso beber um pouco mais pra tentar ver um outro lado.

- Zé, já ta rolando um boato que vai surgir uma grande aliança entre alguns partidos.

- Tô até vendo, vai ser igual aliança na mão de mulher traída: não sabe se é ou não.

- Imagina a cena Zé, daqui a pouco, eles já vão vir pedir seu voto, dizer isso e aquilo.

- Tapinha nas costas aqui, risinho ali, aperto de mão acolá, mas, depois que eles sentam o traseiro naquela cadeira e não saem de lá por nada. Eles só fazem que nada fazem.

- Bonito isso, Zé. Tonico, solta um guardanapo e uma caneta para eu escrever um treco aqui. Repete aquela coisa bonita que cê disse, Zé? Eles só fazem...

- Esquece a frase que a coisa tá feia. Tem nada bonito não.

- Qual a sua aposta, Zé?

- Eu não aposto nada em ninguém.

- Mas você não tem um palpite?

- Não é jogo de bicho para eu dar palpite. Se bem que é tanto rato, corvo, raposa...

- A gente brinca, mas no fundo todo mundo sabe quem vai se ferrar.

- É... Tonico, desce uma branquinha aqui porque agora me deu um arrepio.

- Zé, presta atenção: barzinho, domingão, amanhã é segunda-feira brava, dia de dor de cabeça, de pagar conta, de comer ovo frito, de escutar bronca da mulher... A gente podia estar falando de futebol, de música, de novela... A gente podia estar falando mal de alguém, mas não, a gente tá falando de política. Você tem cada papo...

- Mas você que me perguntou se eu tinha candidato?

- Candidato para quê?

- Ihh!!! Essa última cerveja não lhe fez bem. Candidato para prefeito. Pra prefeito.

- Ah!!! Esqueci que você ainda acredita nessas coisas, Zé.

- Vamos tomar a saideira que você não tá falando coisa com coisa.

- É... o negócio é jogar um gole para o santo e esperar pelo milagre.

- Esse tal de milagre vai sair candidato a prefeito na próxima eleição?

- Candidato? Não... Zé, tô falando daquela mulata que vem subindo a rua. Um verdadeiro milagre!!!


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