Daniel Campos

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03/10/2012 - E o meu texto saiu por aí...

O texto do dia sumiu. Depois de arrematado e perfumado, desapareceu sem deixar pistas. Onde eu coloquei esse texto? Eis a pergunta que não me deixava em paz. Não me lembrava de onde havia posto aquelas linhas recém-nascidas. Para mim, elas fugiram pela noite alta. Ainda mais porque sempre tenho o cuidado de dar asas às palavras. Poderiam estar no jardim, no alto de uma árvore, submersas na piscina, no ninho de um pássaro, no piscar de um vaga-lume, na curva da lua, nas garras do vento, nos passos de um baile, na fenda de um vestido...

A busca parece não ter fim. Reviro lugares óbvios e secretos por uma, duas, três vezes na esperança (ou na loucura) de encontrar palavra por palavra deste texto. Porém, veio a suspeita delas terem sido furtadas. Um texto inédito vale muito. Mas quem roubaria um escritor? Criaturas da noite... Algum duende carente de ilusão? Uma fada apaixonada? Um vampiro solitário? Espíritos zombeteiros? Um cupido sem inspiração? Eram muitas as possibilidades e poucas as chances de eu encontrar a ladra ou o ladrão. E se eu oferecesse recompensa?

Dentre tantas procuras, o constante desencontro entre criador e criatura, autor e obra, escritor e escrito. Não tinha remédio: o meu texto sumira para sempre antes mesmo de ser meu. Tanto que eu não conseguiria reproduzi-lo em todos os detalhes. Textos são como seres humanos – únicos em suas (im)perfeições. Só me lembro de que aquela crônica sofria de uma dor não menos crônica – não tinha final feliz. Isso deve tê-la aborrecido. Por isso, fugiu ou se deixou roubar. De qualquer modo, queria ir ao encontro de outro final. Era um direito seu.


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