Daniel Campos

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29/07/2011 - E ela saiu pelas ruas...

Ela fez cara de má e saiu pelas ruas. Não deu bom dia, não falou o que queria, não fez pose nem fantasia. Caminhou apressada, sem dizer palavra alguma, esbarrou nas pessoas, desobedeceu às regras de convivência e fingiu que não escutou sua penitência. Estava disposta a ser anti, antisocial, anticivilização, antihumor... Parece não ter acordado azeda assim, mas, quem a via, tinha certeza de que ela possuía inúmeros motivos para dividir esse profundo azedume com o mundo.

Cara amarrada, sorriso trancado, punhos cerrados. Vestiu preto dos óculos aos sapatos. Não atendeu telefonemas, não discutiu seus dilemas, não comprou um livro de poemas. Sem querer saber de presente, passado ou futuro, vivia um tempo particular. Se pudesse, pegaria um ônibus espacial e passaria o dia em netuno ou plutão. Chutou um viralata, assustou criancinhas, pisou num mendigo. Não respirava, mordia o ar. Dos seus poros rescendia o perfume da falta de paciência, de inocência, de clemência.

Não entrou em casa ou prédio algum. Não parou um instante sequer para olhar vitrines. Não comeu um sanduíche natural, tampouco bebeu um suco de maracujá. Caminhava pelas calçadas, pelas ruas, pelas pontes sem rumo certo. Não tirou absolutamente nada de sua bolsa, mas não se separou dela um minuto que fosse. Não procurou amigas, parentes, namorados. Seu silêncio chegava a gritar palavras indecentes. Entre passadas firmes e rápidas, queria esquecer o mundo e a si própria num de repente.


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