Daniel Campos

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03/02/2011 - Dito e Nina

Solitários em seu castelo, a princesa Nina foi deixando cair mantos e coroas até se transformar na gata borralheira de uma história que não tem final feliz. O príncipe Dito, da dinastia dos rochedos, cavaleiro altivo, matador de dragões, de mocinho passou a bandido, sendo vilão de si próprio.

Podiam viajar em carruagens pelo mundo afora. Podiam desfrutar de serviços e riquezas. Podiam ser humanos como outros quaisquer se não fizessem tanta questão de viver lustrando e agigantando títulos de nobreza. De nada serviam as jóias de Nina, os vestidos de Nina, as pompas de Nina se Nina vivia a lamber o chão dia e noite até que ele ficasse limpo o bastante para refletir seu rosto. Seu sofrido e castigado rosto.

De nada valiam os projetos de Dito, os conhecimentos de Dito, os contos de Dito se Dito não reinou para além de suas histórias. Com o passar do tempo só se valia das memórias de aventuras e criaturas que não viveu. Contando os dobrões de seu tesouro perdeu os amigos, os festejos, os parentes e, até mesmo, sua amada.

Nina e Dito nasceram de um amor às avessas e foram avessos até o último de seus dias. Foram do luxo ao lixo, do trono à sarjeta, da soberba à solidão. A terra girou, a vida passou, a história caducou e só o orgulho restou, intacto como um cacto no deserto que os cercou.


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