Daniel Campos

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15/10/2011 - Desejo de jabuticaba

O meu reino por um pé de jabuticaba. Trocaria toda minha cavalaria, a beleza da minha realeza, por uma jabuticabeira. Alguma feiticeira deve ter colocado todo o sabor da noite naquelas frutas nascidas como flores de primavera. Como é doce escutar aquele ploct entre os dentes. Uma explosão de caldo, de vida, de lembranças. Comer jabuticaba do pé, dependurado entre os galhos, dividindo espaço com as abelhas. Uma paixão cíclica, que por mais que seja eterna, precisa da saudade para se renovar.

É como se um pedaço esférico de lua, numa polpa esbranquiçada, estivesse guardado dentro de cada jabuticaba. Quanta espera para que essa árvore, de folhas miúdas e corpo manchado, apareça com trajes de gala, em um vestido longo que chega a brilhar ao longo de seu tronco. Uma jabuticabeira é algo sagrado, uma espécie de divindade que nos pede um ritual, uma adoração, um sacrifício. Independente se graúda ou miúda, a jabuticaba nos leve ao pecado da gula.

A jabuticaba nos transforma em pássaro, uma espécie de sabiá, que faz ninho em alguma cruza de galhos. Sabará como alimento e ungüento para todos males carnais e espirituais. Nessa época, todos somos ladrões. Enfrentamos cercas de arames farpados, corremos de cachorros, invadimos o pomar alheio. A busca pela fruta, que é uma espécie de tesouro perdido, é uma reinação à parte. Sem dúvida alguma jabuticaba é música, é dança, é teatro, é poesia, é arte...


Comentários

07/03/2014, por Maria Thereza de Miranda:

é arte...do encontro inesperado, do abraço esperado e desejado, sob a sombra..do seu pé!


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