Daniel Campos

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16/04/2013 - Depressivamente assim

Sem mais querer, desqueria-se. Entregava os pontos. Jogava a toalha. Rendia-se por completo. Desistia de projetos, de planos, de destinos. Dava sonhos por perdidos. Abortava todo e qualquer tipo de esperança. Cansada de procurar pela luz no fim do túnel, entregava-se à escuridão. Queria dormir, mas tinha medo de acordar. Eram tantos pesadelos reais. Pesadelos com cara, nome e endereço fixo. Pesadelos que lhe agarram pelos cabelos, pés e pontos fracos.

Já não conseguia mais esconder as lágrimas. Aliás, revirava-se em lágrimas independentemente de hora e local. Sentia-se um lixo não reciclável. Já não se importava em expor caras feias, amarradas, desarrumadas. Não queria disfarçar, fingir, iludir a si mesma ou outro alguém. Aliás, já não agüentava mais ser o que não era. Tomava remédios e drinques com a mesma necessidade. Dentro dela um enorme mar de saudade, com direito a ressaca.

Cansou de apostar. Estava cheia de trabalhar por alguma mudança. Sem ser atendida em suas orações, foi excomungando santo a santo. Estava sem apetite, sem paciência, sem coragem. Acumulava todos os sintomas de depressão. Passava dias em silêncio, sem ouvir sua própria voz. Foi se divorciando de suas paixões. Não se sentia bem em lugar algum. Não se lembra quando foi a última vez que leu um livro, que dançou, que deu uma volta no parque. Os músculos da sua face esqueceram como sorrir.


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