Daniel Campos

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30/05/2010 - Crise inspiratória

Eu não escrevi nada ontem, anteontem, trasanteontem. Por hoje, a caneta ainda não riscou o papel que, com sua palidez desvairada, continua suplicando por um borrão de tinta. Como pode o papel viver sem uma história, sem um arroubo de amor, sem palavras que lhe façam viver novamente como no tempo em que era árvore rodeada de pássaros, nuvens e sementes. Infelizmente, senhor papel, não consegui lhe ofertar nada neste dia. O resto de hoje, assim como nas datas anteriores, deve ser marcado por um misto de esperança e aflição. Queima em mim a vela de um desespero subido e indeterminado.

Mas amanhã pode ser diferente. Unindo o fósforo do corpo à pólvora da alma quem sabe teremos uma explosão literária ou poética. Quem sabe. Mas amanhã pode ser tarde. É preciso escrever hoje, ou melhor, agora. Chora as mãos numa crise de infertilidade. Chora o olhar que se sai e se perde na noite escura, como vulto de si mesmo. Chora a cidade que me habita e precisa de versos e linhas como outras precisam de pão e circo. Ah! O que houve com a inspiração. Será que errou de endereço ou simplesmente cansou-se de mim. Será um mal-entendido, uma traição corriqueira ou uma fase bandida. Será, o que será que há?

Abarrotado de perguntas e sem condições de fazer um responsório, vasculho a memória, páginas de outra história. Tento pegar o gancho de um romance ou beber em uma crônica daquelas de tirar o chapéu. Mas meu céu está tão raso a ponto causar asfixia. Estou com a cabeça no espaço, com pensamentos sugados por buracos-negros. É preciso tomar um ar, um chá, um beijo. É preciso me atiçar, me provocar, me seduzir a ponto de destravar esse estranho bloqueio. Eu sei que a poesia está aqui, em algum lugar, perdida como uma menina em um campo de centeio.


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