27/10/2008 - Coração partido sim
O coração tem marcas. Marcas de humilhações, marcas de desespero, marcas de dor. O coração de quem ama não é liso, perfeito, intocável. O coração de quem ama é partido para sempre. Porque o coração da criatura amada é apenas a parte de um todo, o qual se pode chamar de felicidade. Afinal, só se completa quando ao lado de outro coração. E por ser parte, de um projeto maior, dói. Dói a dor da saudade, que o marca a ferro e a fogo. Dói o silêncio de pulsar sozinho o seu pulso. Dói a intensidade do sangue jorrado. Dói de prazer.
Mas não troco o meu coração, com marcas e feridas, por nenhum outro. Tolos os que exibem um coração perfeito, plasticamente falando. Tolos os que têm medo de sofrer. Tolos os que não amam temendo ganhar arranhões, vergões, marcas em seu coração. Ah! O coração é um soldado e não há qualquer valia em um soldado sem marcas de guerra. O coração é um escudo e não existe escudo sem o beijo da lança. O coração é trincheira e não há razão de existir uma trincheira sem a eminência do embate. O coração é pólvora, só chegando ao sentido de sua existência no ato da explosão.
As marcas coexistem com o dia a dia do apaixonado. Você pode ter um coração sem nenhum arranhão, mas terá também a consciência de que ele não viveu nada. O melhor é quando o coração, entre marcas, bate feliz ao lado de outro. Há uma aorta imaginária que liga teu coração aos corações de quem ama. É uma espécie de aorta espiritual, não visível a olho nu. Mas você sabe que ela está ali. E o amor que vai e vem por meio desta artéria ameniza a dor das marcas terrenas. A dor de viver o amor por inteiro em um coração partido.
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