Daniel Campos

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02/12/2016 - Coração de estudante

Não há como fugir, os estudantes, nesta época do ano, são inundados por uma mistura de sentidos, de emoções, de pensamentos que fogem à regra. Independentemente, se no ensino fundamental, no ensino médio, no curso técnico, no cursinho pré-vestibular, na universidade... dá um nó peito. Um nó que cartilha alguma explica. Essa mudança de ano ou melhor, de fase, não é fácil de ser assimilada porque traz à tona remanejamentos de contatos, de objetivos, de sonhos. Esses reencaixes da vida abalam, calam fundo, mexem com as estruturas mais íntimas do nosso ser.

Por mais que se reclame da escola durante o ano letivo por vários fatos, já que não é nada agradável, por exemplo, acordar cedo ou dormir tarde, fazer provas, passar tanto tempo dentro de uma sala de aula, estudar algumas coisas que parecem absurdas e inúteis para o nosso dia a dia, a saudade fala mais forte no fim de ano. Mesmo aqueles que são aprovados de forma direta, que passam de ano com louvor, que arrasam no vestibular, que se formam... choram. Se não choram publicamente, choram no chuveiro, no travesseiro ou por dentro...

Fim de ano na escola é sinônimo de separação e despedida. Ficamos longe dos amigos que vemos todos os dias por dois, três meses ou para sempre. Muitos se vão... mudam de escola, de cidade, de caminhos. O coração fica na boca para saber como vão ficar nossos amores, nossas paixões e paixonites, nossos namoros reais ou imaginários. O que vai ser do nosso melhor amigo? Da nossa best friend? Do nosso time? Como fica tudo o que construímos durante o ano? Será que nossas obras e relações vão resistir ao tempo, à distância, ao silêncio? O Face e o WhatsApp estão aí, mas o virtual não é a mesma coisa do presencial. Não é e nem nunca vai ser...

Pode parecer só uma virada de ano, mas muitos colegas de turma e professores acabam realmente ficando para trás, passando de uma presença diária para uma lembrança no álbum do passado. Quanto mais avançamos mais memórias e responsabilidades acumulamos. Aquela criança, aquele adolescente, aquele aluno que fomos um dia vai ficando pela estrada. Aprendemos que a escola é muito mais do que uma boa nota ou um diploma, é um laboratório de experiência que nos prepara para a vida como ela é.

Nossas brincadeiras, conversas, paixões, metas vão mudando ano a ano. Nós não deixamos, portanto, numa virada de ciclo escolar, apenas os cadernos, os livros e os colegas de classe. Nós deixamos, na verdade, um pouco de nós a cada mudança de ano, de série, de fase. O aluno do primeiro dia de aula do ano não é o mesmo do último dia letivo, que, por sua vez, é diferente daquele que voltará à escola no início do ano seguinte. As mudanças externas e, principalmente, internas, acontecem constantemente, num moto-contínuo. Crescemos. Amadurecemos. Vencemos nossos obstáculos, nossos problemas, nossas metas, mas continuamos sem saber como vencer essa saudade que surge a cada fim de ano.

Somos eternos aprendizes e podemos ser excelentes em matemática, português, biologia, artes, mas, da saudade, que causamos e levamos conosco a cada fim de ano, nunca conheceremos nada. Mistérios do nosso coração de estudante!


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