Daniel Campos

Imprimir Enviar para amigo
25/05/2011 - Contemporâneo

Ao contrário de vivo ou morto, passei a dizer que estou online ou offline. Nem luz do sol nem luz de velas, só há a luz da tela do computador. Eu não mais caminho ou vôo, apenas navego. Só amanheço depois de efetuar o login. Não abraço ou beijo, conecto. Meu bicho de estimação passou a ser o micro. A minha coleção de livros foi trocada por um netbook. Minha literatura diária ganhou ícones, abreviações, sinais codificados. Deletar ou adicionar, eis a questão. Meu coração virou modem.

Troquei as cartas, com seus envelopes e selos, pelos emails; Tenho caixas e caixas deles. Percebi que tudo começa com www. Meus sentimentos foram estilizados em emoticons. Passaram a compartilhar meus sonhos num ciberespaço e fazer sucessivos downloads de mim. Os hackers, piratas da rede, passaram a saquear minha alma. Apareço no you tube e sou celebridade do twitter. Escrevo, ou melhor, posto minhas memórias num blog. Ao contrário de nuvens de chuva, nuvens de tags no meu céu.

Ao contrário de programas sociais, quero redes sociais. Substitui meus antialérgicos, antidepressivos e antitérmicos por antivírus. Discuto só em fóruns virtuais. Ao contrário de rostos, flerto com interfaces. Minha matemática é baseada em gigabytes. Tive de aprender a falar eu te amo no msn. Saiu à caneta do meu bolso, entrou um pen drive. Tenho um milhão de senhas. Preciso de contatos, de seguidores, de links para continuar vivo, ou melhor, online.


Comentários

Nenhum comentário.


Escreva um comentário

Participe de um diálogo comigo e com outros leitores. Não faça comentários que não tenham relação com este texto ou que contenha conteúdo calunioso, difamatório, injurioso, racista, de incitação à violência ou a qualquer ilegalidade. Eu me resguardo no direito de remover comentários que não respeitem isto.
Agradeço sua participação e colaboração.

voltar