Daniel Campos

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19/10/2013 - Cem Vinícius

Não conheci Vinícius, que morreu um mês depois do meu nascimento, mas é como se eu o tivesse vivido durante todos esses anos. O poetinha é como uma espécie de sol, de lua, de estrela que se faz presente todos os dias da minha existência. Já li, já vivi, já bebi Vinícius de Moraes de tantas e quantas formas. Vinícius foi uma espécie de poeta da guarda, que sempre me aconselhou a ir por aqui ou por ali nos assuntos do coração.

Vinícius está na minha estante, no meu rádio, na minha memória. Samba da Benção, Pela Luz dos Olhos Teus e Eu Sei Que Vou Te Amar correm em minhas veias assim como Soneto da Fidelidade e A Brusca Poesia da Mulher Amada. Sou tão cheio de Vinícius, que ele chega a sair dos meus poros. A imagem do poeta, bem como suas palavras e ritmos, sempre me foram familiares. É como se Vinícius fosse minha casa.

No mundo de Vinícius me sinto bem. No mundo de Vinícius vou além. No mundo de Vinícius sou também. No mundo de Vinícius, sou dois, dou dez, sou vinte, sou cem. O filho de Xangô sabia como ninguém fazer justiça com os sentimentos e amar feito um trovão, espalhando esse amor pelos sete céus. Vinícius me ensinou que não existe amor impossível, tampouco pedra que um dia não foi ou um dia não será poesia.

Vinícius é Tonga da Mironga do Kabuletê. Vinícius é Arca de Noé. Vinícius é “que seja infinito enquanto dure”. Vinícius é Pobre Menina Rica. Vinícius é Operário em Construção. Vinícius é “as muito feias que me perdoem, mas beleza é fundamental”. Vinícius é a Rosa de Hiroshima. Vinícius é a Valsa de Eurídice. Vinícius é Orfeu da Conceição. Vinícius é “quem pagará o enterro e as flores se eu morrer de amores”.

Vinícius é um sentimento ancestral presente nos ecos e nas profecias do que sou. Vinícius está em tudo o que eu vejo e não vejo. O Vinícius dos livros e discos do meu pai é o mesmo Vinícius que senta ao meu lado com aqueles olhos fundos e aquele sorriso cheio de axé e bossa-nova. Vinícius traz um balançado todo especial, uma licença poética particular e uma falta de métrica sob medida ao meu cotidiano.

Cem anos de Vinícius são cem anos de paixão às mulheres, de amores inacreditáveis, de canções inesquecíveis. Cem anos de Vinícius são cem anos de puro coração, da emoção falando mais e mais alto, da poesia elegante de mãos dadas com a poesia casual. Cem anos de Vinícius são cem anos de lirismo intelectual e boêmio. Cem anos de Vinícius são cem anos de saravá, de poesia popular, de sonetos e canções de amor demais.


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