Daniel Campos

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11/10/2008 - Cem anos de um mundo tirado da cartola

Era uma vez um mágico franzino e negro, que andava com um chapéu-coco de construção em construção, de boteco em boteco, de acorde em acorde. Subia morro, arrastava sandália na periferia, olhava o mundo da janela de um barraco. Sua mágica era realmente boa, merecedora de aplausos. Afinal, vinha gente bronzeada lá da zona sul para ouvir as rimas e os arranjos daquele homem que pouco estudou. Até mesmo os intelectuais da canção se renderam a sua magia. E da cartola daquele mágico chamado Angenor de Oliveira nasciam uma flor, uma escola, uma favela, uma poesia, um jeito diferente de ver, de fazer e de viver o mundo...

Da cartola, o mágico do morro tirou tamborins, paixões e sorrisos. Da cartola, um servente de obra que construía fiadas de samba. Da cartola, uma alvorada diferente de tudo o que já se viu, ouviu, sentiu. Da cartola, o samba à luz do lampião. Da cartola, a batida da fantasia. Da cartola, alegorias e adereços. Da cartola, o amor de Zica, a amizade de Cachaça e a companhia de Cavaquinho. Da cartola, um terreiro e muitos pés. Da cartola, um chão de esmeraldas. Da cartola, o mundo que moia feito um moinho. Da cartola, um sapateado. Da cartola, um luar e um barracão de zinco.

Da cartola, um tempo de amor ao pavilhão. Da cartola, a malandragem do sentimento. Da cartola, um desfile em plena Praça Onze. Da cartola, o rufar de um tambor. Da cartola, as cabrochas mangueirando. Da cartola, manga e mangueira. Da cartola, bambas e baluartes. Da cartola, uma batucada. Da cartola, a velha guarda. Da cartola, a combinação perfeita entre verde e rosa. Da cartola, as rosas que não falam. Da cartola, um mundo onde ninguém chora e não há tristeza. Da cartola, o mágico Angenor de Oliveira, em seu número maior, tirou o próprio Cartola.


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